Mães Deveriam Durar por Toda a Vida
Mãe sempre tem razão. Essa frase, que parece um clichê repetido sem fim, carrega um peso de verdade que só percebemos com o tempo e as circunstâncias. Quando eu era jovem, achava que sabia de tudo. Como todos nós, provavelmente. Quantas vezes ouvi minha mãe dizer: "Não faça isso que não vai dar certo"? E, claro, ignorei. Porque eu sabia melhor, porque eu queria experimentar, porque a voz da juventude grita mais alto que a da sabedoria.
Lembro-me de uma vez, no inicio da minha adolescência prestes a completar 12 anos, resolvi preparar minha festa de aniversário sozinha, fiz a lista dos convidados, toda meninada da rua que ali conhecia, dava em torno de umas 15 a 20 crianças entre 8 e 14 anos.
Cai na besteira (na minha mente) de mostrar a lista pra minha mãe, e ela foi logo dizendo: "Tu vai fazer isso aonde Nêrilda? Tu sabe que lá em casa não cabe quase ninguém." ( Lembrando que nessa época estávamos morando em uma barraca feita de papelão próximo ao centro da cidade, nas margens do Rio Canindé, pois estava ainda na época de romaria. Pra quem não conhece Canindé aqui é o segundo maior santuário franciscano). E eu com a euforia de fazer lista de convidados e das coisas que tinha que comprar pra enfeitar a "mesa de aniversário" que esqueci que nem mesa tinha em casa, estavam todas as coisas de casa na barraca (risos), resolvi pedi uma mesa emprestada da vizinha.
Pedi ao meu pai o dinheiro pra comprar o bolo, na época estava em fase transição da moeda Cruzeiro para o Real,
Quando chegou o dia minha mãe falou: Tu vai fazer mesmo? Não vai dá certo, depois não diga que não avisei. E eu sempre batia o pé e ficava resmungando porque nunca a mãe queria que eu fizesse meus eventos que eu gostava de inventar. Achava que ela não gostava que eu tivesse amizades, ficasse só em casa trancada, mas hoje tenho consciência que isso era para o meu bem.
Pois bem, respondi a ela que sim, que iria fazer porque já havia convidado e que tinha pedido o pai o dinheiro pra comprar o bolo confeitado que custava R$10 reais. E assim fiz, fui pegar o dinheiro e comprei o bolo confeitado de glacê branco e roso quadrado em uma bandeja de papelão prateado na padaria Lopam.
Chegando em casa com o bolo, na hora marcada, já estava na frente de casa uma multidão de menino e menina dos arredores, (risos). Eu havia convidado 15 pessoas e vieram mais de 30 (risos), mas não tinha mais jeito, o jeito era cantar os parabéns, receber os presentes ( que fiquei decepcionada) recebi só 2 presentes e depois repartir o bolo que no máximo dava pra 20 pessoas, mas mesmo assim dividi o bolo e ficou alguns sem receber e começaram a falar mal do meu aniversario, que não prestava, foi uma confusão. Quando contei pra minha mãe ela falou: "Eu num lhe disse que não dava certo esse negócio de fazer aniversário sozinha. Sempre fiz seus aniversario com almoço e só chamava as mães porque em cada casa que eu chamasse já sabia a quantidade de menino que vinha."
Mas não era só sobre o aniversário. Era sobre amizades que não eram verdadeiras, decisões impulsivas que resultaram em decepções, caminhos que escolhi que me levaram a becos sem saída. Em cada uma dessas situações, lá estava a voz dela na minha memória, suave e firme, oferecendo o conselho certo. E eu, teimosamente, escolhia ignorar.
Minha mãe não está mais aqui. E como sinto falta dos seus conselhos. Hoje, percebo que cada palavra dela era uma bússola silenciosa, orientando-me mesmo quando eu estava perdido no mar da vida. Agora, cada vez que enfrento uma encruzilhada, ouço sua voz, ecoando na minha mente, guiando-me com a sabedoria que só uma mãe pode ter.
Penso em todas as vezes que deveria ter escutado. Penso em como a vida teria sido diferente se eu tivesse seguido seus conselhos desde o início. Mas também penso que talvez, em algum nível, ela sabia que eu precisava cometer meus erros para aprender minhas próprias lições. Ainda assim, uma parte de mim deseja que as mães durassem por toda a vida. Porque, no fim das contas, as mães são nossos faróis, nossas guias e, muitas vezes, nossas salvadoras silenciosas.
Hoje, quando encaro decisões difíceis, fecho os olhos e tento ouvir sua voz. Não é a mesma coisa, claro, mas ajuda. E me lembra que, mesmo que não esteja fisicamente ao meu lado, o amor e a sabedoria dela vivem dentro de mim. E talvez, só talvez, seja isso que ela queria desde o começo.
Então, por todas as vezes que não escutei, por todas as vezes que ignorei seus conselhos, e por todas as vezes que ela estava certa, eu digo: mães deveriam durar por toda a vida. Porque, de uma forma ou de outra, elas realmente duram.
Nêrilda Lourenço
Enviado por Nêrilda Lourenço em 21/07/2024