Nêrilda Lourenço
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Raízes de Memória
João voltara à sua cidade natal depois de vinte anos. O tempo parecia ter apagado muita coisa da memória da cidade, mas havia uma árvore, no centro da praça, que resistia ao tempo. Ela estava lá desde sempre, observando em silêncio as idas e vindas da vida. Para João, aquela árvore guardava mais do que sombras — ela guardava memórias.

Quando criança, João costumava subir nos galhos daquela mesma árvore, que parecia tão gigantesca aos seus olhos infantis. Ali, ele imaginava mundos distantes, heróis e aventuras. Mas, com o tempo, a vida foi levando-o para longe. Primeiro o trabalho, depois o casamento, e por fim, a distância silenciosa que cresceu entre ele e sua terra.

Agora, de volta à praça, João sentiu o peso de cada ano passado longe. Ele se aproximou da árvore, tocando seu tronco como quem reencontra um velho amigo. O vento soprou suavemente, e João fechou os olhos, deixando que a brisa trouxesse de volta memórias que ele quase havia esquecido.

Ele se lembrava de Clara, sua namorada da adolescência, com quem trocou o primeiro beijo justamente sob aquela árvore. Lembrava-se também dos amigos, que passavam tardes ali, planejando o futuro com um otimismo que só a juventude traz. Onde estavam todos agora? Alguns foram embora como ele, outros, talvez, ainda estivessem na cidade, presos à rotina, como as raízes da velha árvore.

Enquanto refletia, João percebeu algo que nunca havia notado: uma pequena inscrição no tronco, já desgastada pelo tempo. Aproximando-se, ele leu com dificuldade: "João e Clara, para sempre". Um sorriso triste brotou em seus lábios. O "para sempre" havia durado apenas alguns anos, até que a vida os separou. Mas, de alguma forma, a árvore mantivera aquela promessa viva, mesmo que em silêncio.

João sentiu-se grato por aquele momento. A árvore, com suas raízes profundas e galhos que se estendiam para o céu, era um lembrete de que, embora o tempo passe, algumas coisas permanecem. Não as promessas, talvez, mas as memórias que construímos ao longo da vida.

Com um suspiro, ele se afastou, sabendo que não poderia voltar no tempo, mas que, de certa forma, parte de sua história sempre estaria ali, enraizada naquele tronco velho e resistente.
Nêrilda Lourenço
Enviado por Nêrilda Lourenço em 21/09/2024
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