O Coração do Sertão
Era dia 8 de outubro e o sol, implacável como sempre, aquecia as terras áridas do sertão. O céu, de um azul profundo, parecia abraçar o horizonte, enquanto o vento quente levava consigo o cheiro da terra. Na pequena cidade de São Pedro do Sertão, a animação tomava conta das ruas. Era o Dia do Nordestino, uma data que, apesar de recente no calendário, já trazia no peito do povo uma profunda sensação de pertencimento.
Na praça central, barracas coloridas se espalhavam, cada uma oferecendo um pedacinho da rica cultura nordestina. O cheiro do milho cozido se misturava com o aroma do bolo de macaxeira, enquanto o som do sanfona ecoava pelos cantos, chamando todos para dançar. Ali, em meio à festa, estava Dona Maria, uma mulher de cabelos brancos e olhos brilhantes, conhecida por suas histórias contadas à sombra de um juazeiro.
Dona Maria era a guardiã das memórias de São Pedro. Seus contos eram como um cordel tecido com as vivências de um povo que enfrentava a seca e celebrava a vida. Em cada relato, ela trazia à tona a força de uma cultura que se perpetuava através das gerações. "Ser nordestino", dizia ela, "é carregar no corpo e na alma um legado que vai além das fronteiras, ecoando em cada acorde de forró e em cada verso de cordel."
As crianças rodeavam Dona Maria, sentadas no chão de terra batida, com os olhos fixos nela, absorvendo cada palavra. "Hoje, comemoramos a resistência do nosso povo", ela começou, a voz forte e clara. "A escolha do dia 8 de outubro gera debates, mas o que importa é que estamos aqui, vivos, celebrando nossas tradições!" A meninada aplaudiu, e Dona Maria, com um sorriso no rosto, contou a história de Patativa do Assaré e Catulo da Paixão Cearense, cujas vidas e obras simbolizavam a luta e a beleza do Nordeste.
Enquanto isso, o som do maracatu se intensificava, fazendo os corpos se moverem em um ritmo contagiante. A cidade estava em festa, cada canto vibrando com as cores e os sons do Nordeste. Era impossível não se deixar levar pela magia do momento. O frevo, o xote e o baião se entrelaçavam, trazendo alegria e um profundo sentimento de união.
No meio da agitação, um jovem chamado Lucas se destacou. Ele havia voltado da cidade grande, onde estudava e trabalhava, e sentia a falta das raízes. Ao ouvir a música e ver a festa, sentiu seu coração pulsar mais forte. Ele dançava como se cada passo fosse uma homenagem à sua terra. Os olhares se encontraram com os de Dona Maria, que sorriu, percebendo que ali estava uma nova geração pronta para levar adiante a chama nordestina.
A festa seguia, e as mesas se enchiam de delícias. A comida típica era um convite a relembrar sabores que aqueciam a alma: carne de sol, feijão verde, e, é claro, a tão amada paçoca. As conversas se entrelaçavam com risos e lembranças, enquanto a saudade da terra, mesmo em meio à festa, fazia-se presente.
E assim, entre danças e histórias, entre a alegria e a melancolia da saudade, o Dia do Nordestino se tornava mais do que uma celebração. Era um reconhecimento da força de um povo que, mesmo diante das adversidades, levantava a cabeça e cantava. O Nordeste, com suas nuances de cor, calor e resistência, fazia o Brasil pulsar mais forte, unindo todos em um só coração.
Parabéns, Nordeste! Que suas cores, ritmos e sotaques continuem a ressoar, lembrando a todos nós a beleza infinita da vida no sertão.
Nêrilda Lourenço
Enviado por Nêrilda Lourenço em 08/10/2024