Texto baseado na letra da música: Menininha - Banda Tchê Garotos
Letra: Sandro Coelho

Matheus era um garoto tímido, de olhar atento e coração acelerado. Todos os dias na Escola Municipal São Cristóvão, ele vivia a mesma rotina: sentava-se no fundo da sala, fingindo estar distraído, enquanto seus olhos discretamente buscavam por Clara. Ela, a menina de cabelos cacheados e sorriso radiante, era o centro do seu universo sem nem ao menos saber.

Ele não entendia ao certo o que sentia. Seu coração batia mais forte toda vez que Clara entrava na sala. Ele a observava, tentando compreender o que fazia seus olhos seguirem-na aonde quer que ela fosse. Era algo novo, misterioso, algo que ele, um garoto ainda descobrindo o mundo e a si mesmo, começava a identificar como o primeiro sinal de paixão.

Certo dia, como se o destino finalmente conspirasse a seu favor, seus olhares se cruzaram. Clara, em um gesto tão simples quanto inesquecível, tocou sua mão ao passar pelo corredor. O mundo de Matheus parou por um segundo. Ele sentiu uma onda de calor atravessar seu corpo, e naquele momento, tudo fez sentido. O que ele sentia por Clara não era apenas admiração, era amor. O primeiro beijo deles aconteceu em uma tarde dourada, sob a sombra das árvores do pátio. Matheus finalmente entendeu o que era aquela emoção que tanto o confundia.

Mas a felicidade daquele tempo era frágil. Uma tarde, ao chegar em casa, Matheus foi surpreendido pelas palavras sérias de seu pai. "Filho, nós vamos nos mudar. Seu pai conseguiu um novo trabalho em uma cidade distante." O chão pareceu desmoronar sob seus pés. Longe de Clara, seu coração ficaria incompleto. A despedida foi silenciosa, amarga, e Matheus levou consigo apenas a lembrança da sua "menininha", como ele a chamava carinhosamente.

Os anos passaram, e Matheus cresceu. As paisagens de Pedra Nova, a cidade para onde se mudou, já não lhe pareciam tão estranhas, mas nunca foram suficientes para substituir as memórias que guardava de São Cristóvão. Ele seguia em frente, mas em cada esquina, em cada som, em cada rosto desconhecido, era Clara quem lhe vinha à mente. Os sonhos que teve quando menino ainda ecoavam em sua alma, e a imagem de sua menininha permanecia intacta em seu coração.

Então, em um dia de sol, Matheus decidiu que era hora de voltar. O tempo pode ter passado, mas o amor que sentia por Clara só se tornara mais forte. Ele queria reencontrá-la, queria dizer a ela tudo que nunca conseguiu expressar antes de partir. Decidiu avisar os velhos amigos, que espalharam a notícia de sua volta: "Matheus está chegando".

Ao retornar para São Cristóvão, as ruas pareciam menores, mas o sentimento em seu peito era maior do que jamais fora. Ansioso, Matheus foi até a pracinha onde tantas vezes esperou por Clara, e lá, entre risos de crianças e o murmúrio das árvores, ele a viu. Clara ainda tinha o mesmo sorriso, e quando seus olhares se cruzaram novamente, era como se o tempo jamais tivesse passado.

Ele correu até ela e, sem hesitar, disse o que guardava por tanto tempo: "Te amo, Clara. Eu voltei por você. Nunca te esqueci." Seus corações, outrora separados pela distância, finalmente se encontraram novamente. E assim, debaixo do mesmo céu onde viveram seu primeiro amor, Matheus e Clara recomeçaram de onde nunca deveriam ter parado.

E aquela pequena cidade, que antes parecia cheia de saudade, agora vibrava com a alegria do reencontro.