Nêrilda Lourenço
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A Rosa no Café da Tarde

Era uma tarde comum de terça-feira, dessas em que o tempo parece caminhar devagar. O sol estava preguiçoso, filtrando-se pela janela da pequena cafeteria onde eu costumava passar as tardes escrevendo. O som da máquina de café e o aroma dos grãos torrados eram como uma companhia fiel, quase uma trilha sonora para meus pensamentos.

 

Foi então que a campainha da porta soou, e, por reflexo, levantei os olhos. Um homem entrou, carregando algo em suas mãos. A princípio, não prestei muita atenção, mas logo percebi que ele segurava uma rosa vermelha. Era uma flor simples, mas com aquele tom vibrante que só as rosas vermelhas possuem. Sua presença quebrou a monotonia da cena, trazendo um toque inesperado de cor à tarde cinzenta.

 

O homem parecia nervoso. Sentou-se em uma das mesas ao fundo, próximo à janela, e ficou ali, olhando para a flor. A rosa, ainda com algumas gotas de orvalho nas pétalas, descansava sobre a mesa, solitária. Havia algo em sua expressão que me deixou curiosa. Aquele tipo de curiosidade que surge quando você vê uma história prestes a se desdobrar bem diante dos seus olhos.

 

Poucos minutos depois, uma mulher entrou. Seu sorriso tímido indicava que ela sabia o que estava por vir. Ela se aproximou dele, e, antes mesmo de se sentar, ele lhe entregou a rosa com mãos trêmulas. Aquele gesto, tão simples, carregava um peso de sentimentos que não podia ser descrito em palavras. O olhar dela, ao receber a flor, dizia mais do que qualquer conversa.

 

Enquanto os dois trocavam palavras baixas, a rosa, sobre a mesa, parecia unir seus silêncios e hesitações. Eu me perguntava o que aquela flor significava para eles. Seria um pedido de desculpas, um recomeço? Talvez fosse uma declaração não verbal, um “eu ainda me importo” silencioso. O que quer que fosse, a rosa era mais do que um presente — era um símbolo de algo profundo.

 

Eles conversaram por algum tempo, sempre com a flor entre eles, como um elo invisível que os mantinha conectados. Quando o café chegou, ele a serviu, um pequeno gesto de cuidado. E então, com uma suavidade quase imperceptível, ela sorriu. Foi um sorriso discreto, mas cheio de entendimento. Como se a rosa tivesse dito tudo o que ele não conseguia expressar.

 

Alguns minutos depois, eles se levantaram. Ela segurou a rosa com delicadeza, como se fosse um tesouro precioso. Antes de sair, trocaram um abraço breve, mas sincero. A rosa, agora em suas mãos, era um lembrete de que o afeto, mesmo nas situações mais cotidianas, pode ser renovado em pequenos gestos.

 

Quando eles se foram, o café voltou ao seu ritmo normal. Mas a imagem daquele encontro simples ficou comigo. A rosa, que começou como um presente tímido, terminou como uma mensagem de reconciliação, de carinho, ou talvez de esperança.

 

Às vezes, é assim que a vida nos surpreende: em uma tarde qualquer, em um café de bairro, com uma rosa como protagonista de uma história de sentimentos.

 

Nêrilda Lourenço
Enviado por Nêrilda Lourenço em 24/10/2024
Alterado em 24/10/2024
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