Nêrilda Lourenço
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O Alto do Romeiro
O som das feiras misturava-se ao barulho das pedras sob os pés. Naquela subida íngreme de rochas, antes uma via isolada e pouco transitável, os moradores de Canindé testemunharam as transformações de um lugar que, aos poucos, passou a fazer parte de suas histórias e memórias. Era um caminho difícil, mas, por outro lado, havia uma chapada plana logo após a subida. Hoje, essa rua de chão batido é conhecida como Rua Euclides Barroso, ou Rua da Palha, como os locais a chamam carinhosamente.

Foi nesse cenário que a velha feira começou. Um espaço onde se vendia de tudo: dos produtos que nasciam da terra ao gado e às galinhas que vinham dos sítios. Aos sábados, a rua tornava-se quase uma festa, com vozes, risos e pechinchas entre os comerciantes e os moradores. As pedras, transformadas em rampas, facilitavam o ir e vir dos feirantes e dos visitantes que se apertavam nas vielas improvisadas entre as barracas de palha.

Com o tempo, o coração da feira mudou para o Mercado da Praça Azul. Ali, bem no centro, os comerciantes e compradores se reuniam, e a feira de animais de grande porte se instalou no largo que hoje leva o nome de Praça Cruz Saldanha. Abandonado pelos negócios, o antigo Alto tornou-se um lugar de paz e oração. Um cruzeiro foi erguido, tornando-o um lugar de penitência e reflexão.

Em 1870, surgiu um plano: a Câmara Municipal decidiu construir uma praça pública ali, no antigo Alto, mas o tempo passou e o projeto não saiu do papel. Foi só quinze anos depois, em 1885, que o então Vigário Padre Alexandre Correia de Melo transformou o lugar. Ele ergueu cinco casas ao redor do cruzeiro, destinadas aos romeiros pobres, especialmente os idosos que, nas peregrinações à Canindé, precisavam de um abrigo, mas não tinham condições de pagar uma hospedagem.

Essas casas tornaram-se o primeiro Abrigo dos Romeiros. E, nas épocas de Festa de São Francisco, o Alto enchia-se de visitantes. As casas de abrigo ficavam lotadas e, ao redor, barracas e pequenos ranchos brotavam a cada canto, oferecendo teto a preços módicos aos que chegavam, de rostos cansados, mas felizes por terem alcançado seu destino de fé.

Com o passar dos anos, o local foi sendo transformado; boas casas começaram a surgir, e algumas famílias optaram por fazer do lugar o seu lar. Em 1910, com o falecimento de João Facundo Vieira da Costa, um respeitado tabelião, a câmara decidiu homenageá-lo, e a rua passou a se chamar Rua Tabelião Facundo. Ao contrário de outras vias da cidade, o nome permaneceu, resistindo às mudanças.

Assim, a Rua Tabelião Facundo, mais conhecida como Alto do Romeiro, carrega a história de fé, devoção e luta de um povo que transformou pedras em caminhos, fé em abrigo, e ruas em memórias.

Nêrilda Lourenço
Enviado por Nêrilda Lourenço em 02/11/2024
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